Monday, May 21, 2007

Blue suede shoes


Hoje, quando estava nas lojas, a dar uma volta, vi uma menina pequena (ainda com os seus caracóis “de leite”, loiro infantil e folhos nas saias) a… experimentar sapatos.
Sim, sapatos.
“Da Chicco, não?”
Não…esta miúda era muito avançada. Tinha gostos maduros....
Calçou, nem mais, nem menos, uns sapatos brancos, bicudos, de verniz, com um bocado de salto, que eram, no mínimo dos mínimos, do tamanho…37.
Nada de sapatos rasteiros redondos, com a cara da Barbie lá estampada! Isso já era.
Era óbvio (para quem queria ver) que ela queria uns que dessem para lá colocar dois ou três (ou quatro, ou cinco) dos pés dela (talvez para ficarem para o futuro). E arranjou.
Quem procura, acha (ainda para mais no Dolce Vita, que é o mundo).
E lá ia a menina toda pimpona a tocar aqueles chanatos com força no chão, enquanto eu entrava na loja. Não eram para a idade dela, mas usava-os com toda a convicção: toc, toc, toc…sou a rainha desta coisa toda…desviem-se que eu vou passar.

Que inveja me fez, uma miúda daquelas empinar-se melhor nos sapatos que eu...
Tem futuro, a garota.

Quando chegou à porta da loja, ainda a fazer a sua maratona, de sapatos novos…o alarme apitou (pois, já estava a ser bom demais para ser verdade…)
A mãe dá-se conta do erro, chega-se logo ao pé dela e tira-lhos instantaneamente (vida cruel, aquela em que as mães nos tiram o calçado que nos fica bem, só porque não é do nosso tamanho e não pagámos…)
Resultado: chorou baba e ranho.
E com justa causa chorou e berrou, eu acrescento.
Já tinha usado os sapatos, já tinha experimentado, viu que ficaram bem (óbvio que eram a forma para o seu pé) … o que é que faltava mais? Já eram como se fossem dela!
Pagar era só um pormenor. Senão vejamos: por acaso a Cinderela pagou os sapatos de Cristal (que eram de cristal) quando foi ao baile com abóboras e ratos disfarçados? Por acaso a Dorothy do Feiticeiro de Oz pagou os sapatos vermelhos de rubis (que eram de rubis) e que a bruxa andava sempre a tentar gamar?
Não pagou, pois não?
Então por que é que ela tinha de pagar estes, que nem de pele eram?
”É meuuuuuu” dizia.
E a mãe explicava que não, “são nada, filha, são da senhora!” (a “senhora” paga sempre tudo nestas ocasiões).
Deviam ter dito à cachopita (que parecia uma moça expedita e inteligente e que ia entender, com certeza) que…primeiro temos que acenar com o dinheiro à senhora da caixa para levarmos as coisas da loja (é o que a sociedade consumista nos ensina) e depois (só depois) temos de ter pé suficiente para encher o calçado (é o que a lógica adulta nos diz).
Mas não explicaram e arcaram com as consequências: a miúda continuou na sua opereta de lágrimas….
Finalmente, depois de alguns minutos: processo longo e esgotante de conversações e negociações, a miúda lá voltou descorçoada aos seus sapatos 30/28/29 (não percebo de números infantis)…redondos na frente, cor-de-rosa e sem piada…
Mas ficou sempre com os olhos postos nos outros.
Ai, estas paixões à primeira vista!
Ai, as mulheres e os sapatos!

Cheira-me que é coisa inata…

Cátia

2 comments:

Sara Carvalhal said...

É grande a cruz de uma mulher, mesmo que de palmo e meio... Cresce com esse bicho dentro dela, bicho que se aloja perto dos ouvidos e diz insistentemente "Sapatos... sapatos... gasta em sapatos...". É um bicho ruim este, mas não há cotonete que o apanhe!
Consigo compreender o que terá passado pela cabeça dessa bela criança... A vida é injusta e ela percebeu da pior maneira. As "senhoras" que pagam sempre são de facto uma praga (ó mãe da menina! A culpa é tua pah! Não expilicam!), mas já aqui está patente o problema com a mãe que poderá crescer e levá-la à psicoterapia daqui a uns anos...:)Para terminar... quero apenas deixar uma mensagem à pobre criança... A cinderela de facto não pagou os sapatos, mas era uma moura a trabalhar! Só teve sorte no golpe que deu! Sê tu mesma, cresce e estoira o ordenado todo nisso! ;)

mj said...

Amen to that, sister!