Monday, April 19, 2010

Pedro e Inês


Que mais dizer?

Ai, flores, ai, flores do verde pino

Ai, flores, ai, flores do verde pino




--- Ai, flores, ai, flores do verde pino,

se sabedes novas do meu amigo?

Ai, Deus, e u é?



Ai, flores, ai, flores do verde ramo,

se sabedes novas do meu amado?

Ai, Deus, e u é?



Se sabedes novas do meu amigo,

aquel que mentiu do que pôs comigo?

Ai, Deus, e u é?



Se sabedes novas do meu amado,

aquel que mentiu do que mi à jurado?

Ai, Deus, e u é?



--- Vós me preguntades polo vosso amigo?

E eu ben vos digo que é sano e vivo.

Ai, Deus, e u é?



Vós me preguntades polo vosso amado?

E eu ben vos digo que é vivo e sano.

Ai, Deus, e u é?



E eu ben vos digo que é sano e vivo

e seerá vosco ante o prazo saido.

Ai, Deus, e u é?



E eu ben vos digo que é vivo e sano

e seerá vosco ante o prazo passado.

Ai, Deus, e u é?



El-Rei D. Dinis

sedia-m'eu na ermida de San Simion

sedia-m'eu na ermida de San Simion
e cercaron-mi as ondas que grandes son:

eu atendend[o]'o meu amigo,

eu atendend[o]'o meu amigo.
.

Estando na ermida ant'o altar,

cercaron-mi as ondas grandes do mar;

eu atendend[o]'o meu amigo,

eu atendend[o]'o meu amigo.


.
E cercaron-mi as ondas que grandes son:

nem hei i barqueiro nem remador;

eu atendend[o]'o meu amigo,

eu atendend[o]'o meu amigo.

.


E cercaron-mi as ondas do alto mar;

non hei i barqueiro nem sei remar;

eu atendend[o]'o meu amigo,

eu atendend[o]'o meu amigo.

.


Non hei i barqueiro nem remador:

morrerei eu, fremosa, no mar maior:

eu atendend[o]'o meu amigo,

eu atendend[o]'o meu amigo.
.


Nem hei i barqueiro nem sei remar,

e morrerei eu, fremosa, no alto mar:

eu atendend[o]'o meu amigo,

eu atendend[o]'o meu amigo.
.

Meendinho





Veja-se a repetição sistemática do refrão, ao serviço de uma dor crescente, que se vai tornando lancinante. Dor feita de ausência, de cuidado, de medo. Muito mais o medo de não se voltar a ver quem se ama, do que o medo de se perder a própria vida. A donzela, na Ermida de San Simion, talvez a mesma onde conhecera o seu 'amigo', talvez numa ocasião de romaria (recordo aqui o entusiasmo juvenil das meninas, cujas mães iam a San Simion de Val de Prados 'candeas queimar'), a donzela, dizia, sozinha, olha o mar, que se agita cada vez mais e, com ele, agita-se todo o seu ser de preocupação. As ondas crescem. O seu cuidado também. A maré sobe. A menina não tem 'barqueiro', nem sabe 'remar'. À conta disso, morrerá 'fremosa, no alto mar'. E lá vem o refrão novamente, morrerá 'atendend[o]' meu amigo'. No fundo, a sua morte não se deverá à subida da maré, pois há a percepção do perigo, não há, no entanto, a intenção de o evitar, pois algo maior prende a donzela àquele cais do fim: a ilusão ver tornar o amigo. No fundo, se o fim for funesto (o que não sabemos, já que há apenas uma projecção daquilo que poderá acontecer), a donzela morre de espera; de expectativa; de promessa. Morre de esperança, que, afinal, também mata.

Sunday, April 11, 2010