Saturday, January 26, 2008

Espaços

Forasteiros entram quintal dentro, sorrateiramente, e roubam: levam com eles maçãs, frutas frescas, cores viçosas, cheiros terapêuticos, sabores naturalmente divinais...tudo aquilo que puderem e lhes chamar agradavelmente os sentidos.
...Roubar? Roubam sempre de mansinho, sem quererem ser vistos...olhando enquanto isso para as janelas daquela casa, que está sempre a ameaçar (em silêncio, com a imponência de quem não erra -nem sai do mesmo sítio) apanhá-los em flagrante..a danada.
Continuam a larapiar com um sorriso na mente, pensando no jardim do Éden que, afinal, até encontraram para se deleitar. Fazem o que querem -no quintal, apenas; não entram em casa, porque não lhes interessa o dono- até... roubarem a paciência desse mesmo dono, que espreita pela janela e os expulsa.
E vão-se embora, depois de roubar, para fazer a digestão em outros sítios saboreando o prazer sozinhos. Sorrindo mentalmente ainda e apenas com um leve vestígio de vergonha que não sabem se o é ou se foi a pêra lhes caiu mal.
Embora. Sózinhos.
Por que é assim que se vive, roubando (não dando) para prazer próprio: sózinho. Até encontrar a casa de outro alguém onde poisar e impor-se por uns segundos. Por si, para si.
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Sofia Morna

Friday, January 25, 2008

Vive o Instante que Passa

"Vive o instante que passa. Vive-o intensamente até à última gota de sangue. É um instante banal, nada há nele que o distinga de mil outros instantes vividos. E no entanto ele é o único por ser irrepetível e isso o distingue de qualquer outro. Porque nunca mais ele será o mesmo nem tu que o estás vivendo. Absorve-o todo em ti, impregna-te dele e que ele não seja pois em vão no dar-se-te todo a ti. Olha o sol difícil entre as nuvens, respira à profundidade de ti, ouve o vento. Escuta as vozes longínquas de crianças, o ruído de um motor que passa na estrada, o silêncio que isso envolve e que fica. E pensa-te a ti que disso te apercebes, sê vivo aí, pensa-te vivo aí, sente-te aí. E que nada se perca infinitesimalmente no mundo que vives e na pessoa que és. Assim o dom estúpido e miraculoso da vida não será a estupidez maior de o não teres cumprido integralmente, de o teres desperdiçado numa vida que terá fim."

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente IV'

Lullaby

Tuesday, January 22, 2008

Os olhos da Mj, quando contente.

E os olhos vibram com uma luz não pouco comum nos comuns de nós. Azulam, clareiam...espargem para fora e deixam escapar (por ser demais para conter) animação e vontade, inteligência & inspiração, profundidade & motivação, preocupação & ternura. Sim, tudo isto coroado...por ideias/conceitos à altura de poeta ou cineasta não ciente de que é capaz (mas sendo-o, contudo).
Dos olhos...os predicados escapam para onde? Para os olhos (mais apagados) de quem (mm analfabeto) os lê.
Quero ver-te muitas vezes assim.
E poder ajudar a que isso aconteça.
Que os teus olhos te mostrem.

Sofia.

Monday, January 21, 2008

riot

Oh fraud that cannot cheat the Bee—
Almost thy plausibility
Induces my belief.


Era prestidigitador, tinha visto muitos filmes e um excelente contador de histórias. Agradava-me o tom afectado, a voz nasalada e tinha uma piada não tão fácil. Em mim, não sei o que vira. Provavelmente o que lá não estava. Compôs a figura com a lembrança de outra pessoa e lá estávamos os dois a experimentar. O amargo da experiência foi o desengano dele, o “eu enganei-me, não esqueci a outra”. Cruzes, como pode alguém apaixonar-se por um possível apagador de memórias? Caramba, ainda se fosse para construir umas novas memórias específicas em que o meu Eu lá coubesse...mas nãããããããão, o espaço que ele me dera, media o exíguo espaço que a outra deixara de recuperação para a vida.
Lembro-me que depois de soltar as amarras, passeámos pela baixa de Coimbra, sem nada dizer.
(nem um diamante como farol para um grupo de arqueólogos vir resgatar o coração ao entulho do tempo)


These are the days when skies resume
The old—old sophistries of June—
A blue and gold mistake.

root

He called this directedness intentionality and argued that consciousness contains ideal, unchanging structures called meanings, which determine what object the mind is directed towards at any given time.

No momento gelado, criou-se o R61; ele estava ali para mim como eu para ele. Era Amor, Morte, Vida. Era também uma porcaria de um estampado made in Taiwan numa t’shirt foleira vinda do Brasil por uma tia minha, de Apúlia. Ou nos chamamos Husserl, estudamos ciênca, filosofia e matemática ou é-se uma provinciana do Litoral minhoto.
Ah, raízes....raízes quadradras e raízes desenquadradas.

Thursday, January 3, 2008