Wednesday, June 27, 2007

VII

Um sapo em altercação com um jornalista replicou:
- Nós temos uma ideologia muito própria que não é acessível a mentes menos despertas.
- Confirma então as suspeitas que sobre si recaem?
- A eficácia dos nossos actos assim o dirá.
Mas quem o interpretará? Quem lhe dará o sentido que nos ilumine?
As rãs, nesse dia, convocaram uma assembleia de cariz extraordinário para agendar o plano nacional de semiótica.

VI

No corpo de um homem revelam-se as falésias do desejo em que me enlevo. Beauty is in the eye of the beholder...e a volúpia também. No caminho para a eternidade, somos agrilhoados a esse tapete mágico que quase nos mata. Não será a beleza o supremo momento de eternidade que nos é possível ter?
O olhar comanda as forças e todo o ser se desvela em atenções, cuidados e discrições. Quem opta por esta via, sabe o doloroso caminho que se segue. E porque não gritar? Estamos fartos e partimos para a revolta.
Naturalmente, acordo e o dia tão esperado mostra-me a beleza da cobardia. Se não fosse por ela não haveria ainda raça humana. Imaginem se todos fossemos a combate. Winning is easy... loosing builds character. Oscars 2007

V

Nós seres de quatro patas gostamos de ser acordados. Aliás suspeito que apenas adormecemos para isso mesmo: acordar nos olhos do outro, ver a espera, a angústia e o desenlace. A metafísica de Garfield não perturba o epicurismo da Liberdade: faz sofrer quem te apetecer. Porquê? Porque posso.

IV

O desprezo é-me muito caro. O difícil treino a que nos devotamos para o conseguir é fruto de muito ódio vivido, elaborado, magicado et voilá...pronto a servir.
Depois há que encontrar um alvo q.b.
Por enquanto, coloca-se um cartaz
“Trespassa-se”.

III

Ele olha tanto que chega a trespassar-me. Ter-me-á visto?
Pegou no copo e mais um gole.
Eu... mais um trago e outro e outro trago. Quanto menos trago...pago.

Pré-história II

Geriatria é a ciência da geringonça que nos mata.

pré-história I

Ela a mulher, ele o homem. Finalmente são escritos. A fantasia desce à pena e fica no papel. Mas e eles?
Na claridade dos dias, a dor fica ténue porque para efeitos fiscais procura-se o cartão de contribuinte do coração preso à solidão. (Dai-me cordas para saber o que romper.)
O pior da solidão não é dispender todos os recursos a peneirá-la para que não se cole à pele muito tempo, não; é a luz gritante do sol dos dias que passam que nos bronzeia com ela a prémio de exposição: aqui nas roupas, na pele, nos olhos e nos passos que ainda não dei e mesmo depois destes.

Tuesday, June 26, 2007

Sumário da lição número vinte:

It doesn't matter what we say, so far Every word is like a knife But the silence cuts you twice. Jay Jay Johanson

Um corpo para dois

No domingo, vagueava pelas escritas de grandes senhores e sentei-me ao pé de uma árvore que dava pelo nome da Psicossomática. Num dos seus galhos, lia-se "um corpo para dois".
Sorri e pensei que iria cá voltar.

Well now, Johnny-O...Was it a ghost? Was it fun?

Há imensas imagens de filmes que nos ficam na memória. O seu impacto no enredo, a sua encenação ou por outros motivos quaisquer levam-nos a querer reter aquele momento. Ora nos encontramos conscientes de tal, ora, às páginas tantas da nossa vida, essa imagem ilumina-se de novo na nossa câmara escura.
Em Vertigo (1958), Marjorie (Barbara Bel Geddes) segue Scottie para desvendar o que se passa com ele e depara-se à porta da Madeleine (Kim Novak).
Hoje lembrei-me desse pequeno momento em que no carro ela dita as palavras que intitulam este apontamento.
Desapontamento, realidade, o questionamento e dissolução de dúvidas. It wasn’t a ghost, indeed…a obsessão, tema cerne do filme também se encerra com este olhar. Personagem extraordinária que complementa genialmente a tríade protagonista. E o prosseguir na vida, com o seu carro, pela estrada fora. Menos inspirada.

Thursday, June 21, 2007

Cavalos Brancos

Os meus cavalos brancos nunca vencem uma partida. Os bispos comem-nos quase sempre ou então as fiéis torres avistam-nos no horizonte e lançam uma flecha letal sobre os Cavaleiros. Os meus cavalos brancos são variáveis que se lançam como berlindes. Por vezes ganho a partida, noutras não. Os cavalos soltam-se e não mais tornam. Resta-me o mito “My kingdom for a horse…”.
E eles o que dirão?

Saturday, June 2, 2007


E, pois, me pões no Silencio onde palavras não ditas se querem Dele arrancadas, à força, (porque voluntariamente não sairão). E tu ser pacífico (que nada forças) deixas-mas aqui dentro de mim, desde então. Pergunta e elas dir-se-ão, afasta-te e elas continuarão a nadar-me no íntimo. Com os seus pormenores…ate ao mais ínfimo.
Cátia

Estou a deixar-te ir…
Sentes-te ir com o vento, sem ninguém que te lance a mão?
Pois, sou eu quem não ta lança.
Daqui a pouco, quase…daqui a pouco, nem pensarei na comichão que tenho na mão para te agarrar.
Não te agarro.
Porque agarrada tentaram que fosse e não gostei.
Portanto, anda à vontade. Já vi, senti, o que se passa…mas a comichão persiste.
E a frustração de não a teres por mim, continua.
Não gostes de mim, não, mas…
Vai não gostar longe.

Cátia

Friday, June 1, 2007

The night of the hunter.

para a minha tartaruga

E DE REPENTE É NOITE
...
Cada um está só no coração da terra
trespassado por um raio de sol:
e de repente é noite.

Salvatore Quasimodo