Nos muitos mundos possíveis que constituem aqueles que imaginamos e os que nem nos passa pela cabeça, há um grilhão muito finito: a do pensamento. Se bem que achemos que tudo pode ser concebido, basta observarmos uma conversa entre guionistas para concluirmos que ou eles são doidos ou nós nunca nos lembraríamos daquelas hipóteses.
Penso naquelas possibilidades de acção que deixo à soleira da porta; noutras que tomei já tão difíceis e das quais ninguém saberá.
Amanhã, levanto-me da cama, visto-me e saio porta fora. Ando e continuo a andar muito para além das saudades do conforto de regressar. E ainda depois disso, continuar andar. Até que um dia as minhas pegadas perfazem um rasto muito longe do ponto de partida...não me lembro das migalhas que deixei e nem elas me reconhecem já.
A questão essencial passa por perceber que mesmo que não tenhamos saído porta fora, um dia damos conta que nos encontramos muito longe de nós. Essa lonjura notar-se-á mais quando vivermos dias de maior angústia. Muito pouco nos trava o caminho de voltarmos atrás, contarmos os passos e apanharmos as migalhas...sim, regressar ao ponto em que o erro ainda não se tinha dado, a decisão ainda por tomar, o crime por cometer. Contudo, apercebemo-nos de algo extraordinariamente simples: a pessoa que cometeu o crime e a pessoa que não cometeu o crime são a mesma. E então aí, até onde é que teríamos de voltar para nos renovarmos?
Como compreendo bem as pessoas que preferem dar um salto em frente sobre o precipício; parece muito improvável que a seguir a esse precipício surja outro.